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A quinta noite

Escrito por: Hans Christian Andersen

Ontem: disse a lua, estava passando por Paris, a cidade onde muitas coisas acontecem. Meu olhar deslizou para um dos corredores do Louvre. Avistei então, uma velha senhora, vestida muito pobremente, certamente pertencia à classe operária. Ela seguia um funcionário. A velha senhora havia pedido a ele que a levasse à imponente sala do trono. Ela tinha um enorme desejo de a conhecer. Tudo havia sido difícil para ela, primeiro chegar até ali, depois convencer so funcionário de que ele precisaria levá–la até lá. Ao chegarmos no local seu olhar e sua atitude eram de total reverência ao lugar, era como se estivesse dentro de uma igreja.
– Foi então, aqui! Exclamou! Aqui!
Ao memso tempo foi se aproximando do trono. Dele pendia uma bela peça de veludo, debruada com um cordão de ouro.
Novamente ela exclamou: Foi aqui! Foi aqui!
Ajoelhou-se, beijou o pano cor púrpura. Daqui de cima tive a impressão de que chorava.
- Essa manta de veludo não é a original, disse o guia!
- Sim, mas esse é o lugar e o pano deveria ser idêntico a esse aqui!
- De alguma forma o lugar lembra esse aqui, mas certamente não completamente, disse o guia. Havia uma confusão e uma destruição geral: janelas arrombadas, as portas tinham sido separadas de suas dobradiças, e, o pior, muito sangue derramado pelo chão.
Não importam as diferenças, prevalence o fato: - Meu neto morreu sobre o trono da França! Morreu! – Depois disso a velha senhora não disse mais nada.
Ambos foram embora: o guia e a velha senhora. A pouca luz do crepúsculo foi diminuindo e a minha luz foi aumentando e direcionada para o rico pano de veludo que estava sobre o trono do imperador deposto.
Estão curiosos para saber quem era aquela mulher? Pois bem: escutem a história que tenho para contar:
Estávamos no tempo da Revolução Francesa de Julho, uma noite de vitória para o povo. O palácio havia se transformado em uma fortaleza. Tudo tinha sido fortificado. O povo tomou as Tulherias. Mulheres e crianças combatiam junto com homens. Em multidão invadiram o palácio. No meio dela, um jovenzinho pobre, vestindo uma camisa velha, combatia também. Sem experiência de combate foi mortalmente ferido por golpes de baioneta. Foi ao chão quase sem vida.
Toda essa cena aconteceu na sala do trono. Vendo a situação do jovem, carregaram-no, puseram-no no trono e o cobriram com aquela capa de veludo. Seu sangue ensopou o manto púrpura imperial.
Que imagem! Um salão suntuoso servindo de cenário para uma luta sem fim. A bandeira imperial foi jogada ao chão, ao memso tempo que o pendão tricolor tremulava na ponta das baionetas. No trono, o rapaz quase morto. Embora pálido, sua expressão era de vitória. Estava prestes a morrer, seus olhos fixavam o céu, seu corpo se contorcia, seu peito ferido, sua roupa velha e esfarrapada era escondida pelo rico pano de veludo enfeitado com lírios de prata.
Ao nascer, uma vidente profetizou: Um dia ele morrerá no trono da França. A mãe, ao escutar o vaticínio pensou logo que ele seria um segundo Napoleão…
O clarão da lua que tantas vezes iluminara as lápides dos imortais, nessa noite beijou a testa da velha senhora, que sonhou um dia ser rainha-mãe, pois seu neto, seria o rei de França! Pobre rapaz, apenas morreu sentado no Trono Imperial de França.

© Todos os direitos reservados a H.C Andersen Institutte ®

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